O QUE SÃO CONSTRANGIMENTOS?

Os diferentes comportamentos que queremos ver replicados no jogo têm de ser trabalhados nos treinos e consequentemente nos exercícios. Com base nesta ideia surge a teoria dos constrangimentos onde a promoção de um determinado comportamento pode ser alcançado através da manipulação de constrangimentos. Mexendo num exercício, estamos a diferenciar possibilidades que o atleta vai ter, quando o executar, a nível técnico, tático, físico e até psicológico. Assim, o atleta age conforme a identificação que faz à informação ambiental. Nós, enquanto treinadores, temos o poder de manipular esta informação ambiental. Os atletas terão de se adaptar ao ambiente e realizar comportamentos adaptativos que pretendemos ver. As tarefas que propomos devem, no entanto, assegurar a existência da informação que os jogadores normalmente utilizam em jogo para decidir.

Existem vários constrangimentos que podemos manipular nos exercícios, assim como, as regras deste, o número de jogadores que participam, a manipulação do número de alvos e a manipulação do espaço. Todos têm as suas consequências na performance dos atletas. Os vários testes parecem confirmar que o uso de mais alvos em jogos reduzidos no futebol modifica as relações espácio-temporais. Por exemplo, o aumento no número de alvos,

promove aumentos nas distâncias entre equipas, e na diferença entre os espaços utilizados para ambas as equipas. As diferenças são também perceptíveis na atenção dos atletas ao seu desempenho tático. O uso de jogos reduzidos com pequenos alvos adicionais promovem as equipas jogarem longe umas das outras com menos espaço coberto e menor diferença no espaço coberto entre elas. Será, na minha opinião, uma boa abordagem para equipas mais novas onde se observa bastante concentração na zona da bola. Anteriormente, Fenoglio (2003) reportou que o uso de 4 alvos em jogos reduzidos de 4x4 e 8x8, promoviam mais tentativas de marcar, e, mais golos, do que usar jogos sobre duas balizas com GR. Em conclusão, será um bom método para trabalhar finalização. As equipas passam mais tempo nos corredores laterais e setores defensivos quando jogam com mais alvos, por exemplo, 6 alvos em comparação com 2. Este estudo tem implicações claras para a prática, pois enfatiza que a ampliação de informações específicas sobre jogos reduzidos pode ajudar os treinadores a expandir a amplitude de atenção e percepção dos jogadores, facilitando assim o desempenho tático. O aumento do número de jogadores da

mesma equipa pode promover regularidade na organização espacial. A percepção e a ação dos jogadores sob essas restrições em jogos reduzidos pode facilitar e simplificar o processo de aprendizagem para adaptarem os seus posicionamentos. Na verdade, aumentar o número de companheiros pode ajudar também os jogadores a entender melhor o papel do jogo individual e, consequentemente, como agir colectivamente. Em aplicações ainda mais práticas, esta situação pode ser usada para melhorar as tarefas de aprendizagem defensiva como a concentração (ficar compacto nas áreas mais vulneráveis) e o equilíbrio (trabalhar em estreita colaboração), trabalhando os princípios de jogo. Em geral, variando o número de oponentes e companheiros de equipa, pode ser usado, para obter diferentes efeitos no trabalho colaborativo e pode ajudar também os treinadores a reconhecer como estas restrições influenciam a transferibilidade dos comportamentos dos jogadores para o ambiente de jogo.

Manipulando o espaço podemos criar uma coordenação e uma maior sincronização entre os atletas, exigir diferentes capacidades motoras, ora a nível mais aeróbio, ora mais anaeróbio, e podemos manipular para que os atletas explorem diferentes espaços de jogo. A busca de soluções colectivas eficazes está presumivelmente ligada à capacidade dos jogadores de explorar as interacções locais, com base em informações espaciotemporais relacionadas ao posicionamento dos companheiros de equipa.

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